sexta-feira, 20 de março de 2009

Atividade 02b - César Lattes

Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido simplesmente como César Lattes, (Curitiba, 11 de julho de 1924 — Campinas, 8 de março de 2005) foi um físico brasileiro, co-descobridor do méson pi.

Lattes fazia parte de um grupo inicial de brilhantes jovens físicos brasileiros que foram trabalhar com professores europeus como Gleb Wataghin (1899-1986) e Giuseppe Occhialini (1907-1993). Lattes foi considerado o mais brilhante destes e foi descoberto, ainda muito jovem, como um pesquisador de campo. Seus colegas, que também se tornaram importantes cientistas brasileiros, foram Oscar Sala, Mário Schenberg, Roberto Salmeron, Marcelo Damy de Souza Santos e Jayme Tiomno. Com a idade de 23 anos, ele foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.








De 1947 a 1948, Lattes começou a sua principal linha de pesquisa, pelo estudo dos raios cósmicos, os quais foram descobertos em 1932 pelo físico Estadunidense Carl David Anderson. Ele preparou um laboratório a 5.000 metros de altitude, nas montanhas dos Andes, na Bolívia, empregando chapas fotográficas para registrar os raios cósmicos. (1)



Fonte: http://www.ifi.unicamp.br/~ghtc/meson.htm

Em plena década de 40, César cria o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, CBPF, o primeiro centro independente para pesquisa em física, atualmente vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Entre suas atuações acadêmicas participou da cátedra do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia da USP, onde implantou o Laboratório de Emulsões Nucleares e da direção do Departamento de Cronologia, Raios Cósmicos e Altas Energias do Instituto de Física da UNICAMP, onde criou o laboratório de Síncroton. (2)

Em 1946, foi trabalhar no grupo de pesquisa do professor Cecil Powell, em Bristol, Inglaterra, onde já estava Occhialini Powell, cientista renomado que há muitos anos vinha desenvolvendo uma técnica experimental para observar partículas elementares que constituem o átomo, usando emulsões de filmes fotográficos. Em geral, todos conhecem o próton, o elétron e o nêutron. Mas há muitas outras, cada uma com uma função específica na construção do átomo. As emulsões dos filmes fotográficos servem para detectar partículas porque, se forem suficientemente sensíveis, registram com um risco escuro o caminho percorrido por elas quando o filme é revelado.

Foi então que, em 1947, deu uma contribuição singular. Ao analisar emulsões expostas nas altas montanhas dos Pirineus, ele percebeu traços que poderiam identificar uma partícula até ali não observada, embora sua existência tenha sido prevista antes pelo físico japonês Hideki Yukawa. Para confirmar as medidas - em física experimental sempre é preciso muitos testes para se ter alguma certeza de uma medida -, levou emulsões às montanhas ainda mais altas dos Andes bolivianos, a 5 mil metros de altitude. Para chegar ao Monte Chacaltaya, preparar os experimentos e realizar as medidas, era necessário carregar instrumentos delicados na neve, em lombo de animais, com pouco oxigênio por causa da altitude. Quanto maior a altitude, maiores as possibilidades de registrar a passagem de raios cósmicos - que vão se perdendo ao atravessar a atmosfera até atingir regiões mais baixas.


Fonte: http://www.ifi.unicamp.br/~ghtc/meson.htm

Em 1947, Lattes, Muirhead, Occhialini e Powell publicaram os resultados na revista Nature. No artigo ( ), anunciaram a observação do méson pi - a partícula prevista por Yukawa -, também chamado píon. Meson, em grego, significa intermediário; a partícula observada recebeu o nome de méson pi pelo fato de sua massa ser intermediária entre a do elétron, muito leve, e a do próton, quase duas mil vezes maior. O méson é muito importante porque ajuda a manter estável o núcleo atômico, composto também de prótons, de carga elétrica positiva, e de nêutrons, sem carga elétrica. A interação do méson com os prótons e nêutrons permite que tantas cargas positivas dos prótons permaneçam perto umas das outras sem se repelir e desmontar o átomo.
Surpreendendo outros físicos, Lattes foi para Radiation Laboratory da Universidade da Califórnia (Berkeley), onde havia o maior acelerador de partículas, um sincrocíclotron com o eletroímã de 184 polegadas, construído por Ernest Lawrence. Na realidade, Lattes decidiu ir para Berkeley quando passou pelo Brasil a caminho de Chacaltaya. Para ser aceito no Radiation Laboratory, precisou do apoio de pessoas influentes. Desde a Segunda Guerra, os laboratórios americanos de física eram "classificados", ou seja, estavam sob o controle e fiscalização da Atomic Energy Commission (AEC). A autorização concedida a Lattes não teria sido apenas uma cortesia de Lawrence para com Wataghin ou de Bernard Baruch, representante do governo americano na comissão de energia atômica da ONU, para com Álvaro Alberto, membro da delegação brasileira. Havia um jogo de interesses políticos entre o Brasil e os Estados Unidos: a chamada política de cooperação continental, a transferência de tecnologia para produção de energia nuclear, os minerais radioativos brasileiros... (ANDRADE, 2005)


Em 1948, ano seguinte ao da descoberta do méson-pi na natureza, os físicos Cesar Lattes e Eugene Gardner detectaram o méson-pi artificial, produzido em um ciclotron de 184 polegadas. Este acelerador de partículas, com energia equivalente a 380 MeV (milhões de elétrons-volt), era o equipamento com maior limite de energia da época. Lattes legou a Berkeley além de seu conhecimento sobre como analisar os traços nas emulsões fotográficas e tirar deles algum significado; emulsões especiais desenvolvidas em Bristol. O cientista brasileiro mostrou que mésons estavam sendo produzidos no acelerador de partículas. Ou seja: pela primeira vez o homem provava ser capaz de controlar a produção de tais partículas. É muito interessante notar que píons estavam sendo produzidos no cíclotron o tempo todo, mas ninguém havia pensado em medi-los - ou, se pensou, não soube bem como fazê-lo. Foi então que Cesar Lattes fez toda a diferença.


No mesmo ano, junto com colegas bolivianos, cria em La Paz, as condições para o que viria a ser o Laboratório de Físicas Cósmicas, a partir de uma velha estação de observações meteorológicas, onde obtivera os registros dos eventos que levaram à descoberta do píon. Cedo esse Laboratório se transformava em centro científico do maior interesse internacional, abrigando em suas dependências equipamentos e cientistas de todas as partes do mundo que ali escreveram importantes capítulos do conhecimento sobre a radiação cósmica. De volta ao Brasil, Lattes tornou-se professor da USP, que lhe concedeu o Título de Doutor Honoris Causa em 1948. Em janeiro de 1949, contribuiu para a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, que desempenhou importante papel na consolidação da pesquisa em física, do qual foi Diretor Científico. No mesmo ano, foi designado pelo Presidente da República, membro da Comissão incumbida de elaborar projetos e atos necessários à instituição do Conselho Nacional de Pesquisas CNPq, criado em 15 de janeiro de 1951, o qual deu novo impulso à pesquisa científica e tecnológica no Brasil, tendo contado com Lattes na composição de seu primeiro Conselho Diretor. (3)


Em 1949, Lattes retornou como professor e pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro e no Centro Brasileiro de pesquisa. Depois de outra breve estada nos EUA (de 1955 a 1957), ele voltou para o Brasil e aceitou uma posição na sua alma mater, o Departamento de Física da Universidade de São Paulo. Também nesse ano, Lattes ingressou para a Academia Brasileira de Ciências. (1)


Em 1951 criou-se no Brasil pós-guerra o Conselho Nacional de Pesquisas, o CNPq, orgão influenciado diretamente pelas pesquisas de estudiosos como Lattes. Nesta época, Lattes anunciou ao mundo descobertas como a do “méson pi”, uma partícula efêmera com massa entre a do elétron e a do próton que foi fundamental para dar continuidade aos estudos sobre radiação. Junto com outros pesquisadores obteve importantes avanços, entre eles, resultados como a reprodução artificial dos píons e mais tarde a descoberta do fenômeno das “Bolas de Fogo”, nome dado às nuvens de mésons encontradas no interior dos átomos. (2)


Deixa esses encargos em 1955, para uma curta temporada nos Estados Unidos. Recusando convites os mais honrosos, como o de substituir o falecido Enrico Fermi na chefia do seu Instituto na Universidade de Chicago, retorna ao Brasil dois anos depois para criar, na USP, um laboratório para estudos de interações a altas energias na radiação cósmica. A partir de 1962 lidera a reunião de grupos brasileiros e japoneses num projeto de longo alcance sobre interações a altas energias na radiação cósmica: a Colaboração Brasil-Japão. Desde então os resultados pioneiros desse grupo, em domínios então fora do alcance dos mais potentes aceleradores em operação ou em projeto, ganharam elevado prestígio nos meios científicos internacionais, considerados como promissoras aberturas para expansão das fronteiras da física moderna. (3)
Em 1967, Lattes aceitou a posição de professor titular no novo Instituto "Gleb Wataghin" de Física na Universidade Estadual de Campinas, nome que se originou de seu professor fundador, o qual ele também ajudou a fundar (1), hoje talvez o único instituto de física no Brasil no qual há mais atividade em física experimental do que em física teórica - certamente em boa parte devido à direção que ele e outros, como Rogério Cerqueira Leite, Sérgio Porto e José Ripper, imprimiram à instituição nos anos seguintes (3). Ele também se tornou o diretor do Departamento de Raios cósmicos, Altas energias e Leptons. Em 1969, ele e seu grupo descobriram a massa das co-denominadas bolas de fogo, um fenômeno espontâneo que ocorre durante colisões de altas-energias, e os quais tinham sido detectados pela utilização de chapas de emulsão fotográfica nucleares inventadas por ele, e colocadas no pico de Chacaltaya nos Andes Bolivianos. (1)


A aliança entre ciência e militares foi a principal responsável pelo aumento da produção científica. Do mesmo modo que não se pode inferir que os militares defendiam a utilização da energia nuclear na produção de eletricidade como mera estratégia técnica, é ingênuo supor que não tivessem interesse na tecnologia dos armamentos nucleares. Já os físicos — Cesar Lattes, Jayme Tiomno, Hugo Camerini, José Leite Lopes e Marcelo Damy, personalidades fotografadas pela Manchete — eram de uma geração em que a guerra condicionou as opções sociais, políticas e filosóficas. Queriam fazer ciência no país. (Andrade & Cardoso, 2001)


Lattes aposentou-se em 1986, quando recebeu o título de doutor honoris causa e professor emérito desta universidade. Mesmo aposentado ele continuou a viver em uma casa no subúrbio próxima ao campus da universidade. (1)


Em agosto de 1999 a instituição homenageou o cientista batizando sua base de dados pública de Plataforma Lattes, ou Currículo Lattes, uma ferramenta utilizada desde então pelas principais universidades, institutos, centros de pesquisa, estudantes e educadores no auxílio à busca de informações ligadas à pesquisa e seus pesquisadores. (2)


Membro da Academia Brasileira de Ciências, da União Internacional de Física Pura e Aplicada, do Conselho Latino-Americano de Raios Cósmicos, das Sociedades Brasileira, Americana, Alemã, Italiana e Japonesa de Física, entre outras associações, ocupou numerosas vezes posições de conselheiro, quando contribuiu com sua experiência e visão pioneira para a formulação de políticas e diretrizes de ação.


Tem sido alvo de repetidas homenagens por parte de organizações oficiais e privadas no Brasil e no exterior e inúmeras vezes foi escolhido paraninfo ou patrono de contingentes de novos estudantes, formandos em ciências exatas e aplicadas. Entre prêmios, medalhas e comendas, recebeu, no Brasil, o Prêmio Einstein de 1950, o Prêmio Fonseca Costa, do CNPq, em 1958, a Medalha Santos Dumont em 1989, a Medalha comemorativa dos 25 anos da SBPC e placa comemorativa dos 40 anos dessa sociedade, o símbolo do Município de Campinas, em 1992, e muitos outros. Orgulha-se, particularmente, da iniciativa de dezenas de municípios brasileiros que lhe deram o nome a escolas municipais, bibliotecas, praças, ruas.


Sua atuação no continente sul-americano foi reconhecida pelo governo boliviano, que lhe concedeu o título de cidadão honorário daquele país, em 1972, pelo governo da Venezuela, que lhe conferiu a comenda Andrés Bello em 1977, e pela Organização dos Estados Americanos, que lhe outorgou o prêmio Bernardo Houssay, em 1978; em 1987 recebeu o Prêmio de Física da Academia do Terceiro Mundo.



Fonte: http://www.cbpf.br/meson/meson.html

É autor de mais de sessenta trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior. Após sua aposentadoria na UNICAMP, a sua energia indomável ainda o levava a iniciar a formação de um novo grupo de pesquisadores na Universidade de Mato Grosso do Sul, cujas primeiras contribuições em pesquisa apareciam em revistas internacionais de física. (3)


Segundo matéria publicada no site Ciência Hoje, entre uma brincadeira e outra Lattes contou ao repórter do site em entrevista que certa vez, um amigo lhe disse ter visto uma carta escrita por Niels Bohr, em seu museu em Copenhague - Dinamarca, que dizia: "Por que César Lattes não ganhou o Prêmio Nobel - abrir 50 anos depois da minha morte".


Como Bohr morreu em 1962, ainda teremos que esperar algum tempo até que possamos ler o conteúdo da carta que deverá ser aberta em 2012. Só então poderemos obter respostas, até lá, só nos resta esperar.


Dono de um sempre reconhecido senso de humor, César Lattes faleceu em Campinas em 2005 aos 80 anos, deixando para trás algumas perguntas. Os estudos de Lattes sobre o méson pi acabaram por render um prêmio Nobel de Física a Hideki Yukawa e a Cecil Powell, que havia trabalhado com César Lattes. Porém, nada foi creditado ao brasileiro. (2)


Fonte: http://www.cbpf.br/meson/meson.html

Lattes é um dos mais distintos e condecorados físicos brasileiros, e seu trabalho foi fundamental no desenvolvimento da física atômica. Ele também foi um grande líder científico dos Físicos Brasileiros e foi uma das principais personalidades por trás da criação de várias instituições importantes como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Ele figura como um dos poucos brasileiros na Biographical Encyclopedia of Science and Technology de Isaac Asimov, como também na Enciclopédia Britânica. Embora ele tenha sido o principal pesquisador e primeiro autor do histórico artigo da Nature descrevendo méson pi, Cecil Powell foi o único agraciado com o Prémio Nobel de Física em 1950 pelo "seu desenvolvimento de um método fotográfico de estudo dos processos nucleares e sua descoberta que levou ao descobrimento dos mésons". A razão para esta aparente negligência é que a política do Comitê do Nobel até 1960 era dar o premio para o líder do grupo de pesquisa, somente. (1)


Com o falecimento de César Lattes o país perdeu muito de sua ciência. Contudo, o legado deixado por este que foi um de nossos maiores representantes na área do conhecimento e da educação, não é algo passageiro; muito pelo contrário. As descobertas que Lattes apresentou à ciência são atualmente parte de um patrimônio que não pertence somente a nós brasileiros, mas a toda humanidade. (2)

Títulos e cargos ocupados:- Graduação em Física e Matemática pela Universidade de São Paulo - USP (1939-1943).- Professor Catedrático da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (1967 a 1969), transferindo-se definitivamente, após essa data, para a Universidade Estadual de Campinas- Membro do Conselho Latino Americano para a Radiação Cósmica (1959 a 1967);- Fundador e diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF, no Rio de Janeiro (1949 a 1960);- Chefe do Grupo de Pesquisas de Raios Cósmicos do Instituto de Física Gleb Wataghin da UNICAMP (1980-1982 e 1982-1983);- Coordenador de Curso Superior na UNICAMP (1973-1984);- Representante da União Internacional de Física Pura e Aplicada no Brasil (1950 a 1954); (3)

Referências Bibliográficas:

1) http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sar_Lattes – acessado em 14/03/2009
2) http://www.guiacurso.com.br/dicas.php?id=407 – acessado em 14/03/2009
fotos: http://www.if.ufrgs.br/~cas/lattes_zh.htm - acessado em 14/03/2009
3) http://www.unicamp.br/siarq/lattes/vida_obra.html, acessado em 14/03/2009

ANDRADE, A.M.R.; CARDOSO, J.L.R. 2001. Aconteceu, virou manchete. Rev. bras. Hist. [online]. 2001, v. 21, n. 41, pp. 243-264.

Um comentário:

  1. Maria Luiza,

    Sou adepta ferrenha de textos resumidos, mas apesar de longo, seu texto me chamou a atenção.
    Além da escrita de qualidade e das boas ilustrações, também me admirou a atenção dada às referências tanto bibliográficas quanto fotográficas.
    Também gostei da informação referente à carta de Bohr no museu da Dinamarca. Sem dúvida atiçou minha curiosidade, como deve ter atiçado a de vários outros leitores. Lamento, no entanto, que Lattes não terá a chance de lê-la.

    Priscila Carrara

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